UM ANO DE SENTIRES



Toquei em todos. Gosto, quero e preciso de todos, seccionados ou mesclados em composição enriquecida pela poesia quero sentir em mim esta vontade bárbara na ponta dos dedos como um formigueiro que se alteia em subterrâneos por escavar. Toca-me e descubro-me.

DO TOQUE DE QUEM DANÇA



Nada na terra se iguala ao toque do par que chora compassos a tempos moídos no relógio do homem. Não há terra, não há. Não há homem nem mulher. Há amantes que falam nas pautas de um doido que um dia olhou a Lua, furou-a no dedo e aprendeu a fazer poesia.

NAQUELE DIA



Não se esquecera daquele dia, aliás muitas das vezes a sensação que tinha é que o tempo houvera estacado naquele dia formando uma barreira entre o até aquele dia e o após. Devía ser porque naquele dia fora verdadeiramente feliz. Nunca soube explicar porquê. Só sabía que quando o coração se angustiava na solidão dos muitos anos passados ou pressentía que a vida se aproximava a passos curtos para ter a última conversa com ele pegava na fotografia e bastava-lhe amornar a mão naquela imagem infantil para tudo se aquietar. E regressava àquele instante de risos e companhia, de palmas e gritos agudos em que o bastante para se dar e receber estava ao alcance do toque. Vamos ser amigos para sempre!

BRINCAR


Talvez as sombras se
QUEIRAM
antes de nós

AS LINHAS



É calando-me que melhor falo de ti. Do teu pescoço sob a palma da minha mão, de todas as irregularidades do que ele me disse ao sentir as linhas do meu apertar na faísca incendiária que resvalou dos meus dedos.


Ainda trago pele de ti agarrada na queimadura do encontro. Do que foi dito não me lembro, provavelmente nem tería importância, ruído de fundo, abstracto, relevante mesmo foi o abraço na polpa do teu pescoço.

CATIVARES



TOQUES DE (TANTO) AMOR

SÓ PELE



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Acomodados entre braços e pernas sentiram o quanto se aquecíam e mimetizavam nas emoções guardadas por dentro, agora era só pele, pele na pele, pele de roupa, o perigo dos sentires a roçar entre as cálidas curvas e pregas ajeitadas como um tecido perfeito, impossível mentir, disfarçar as linhas arrepiadas ou a expansão do prazer em cada toque inevitável.

TOCAR E FINGIR


Na ponta dos dedos perfumados a Chanel nº5 fingiu que era feliz, fingiu que o amor a molhava.

O PRÉMIO


Rangía a orquestra no desafinado gingar de acordes que aturdíam o espaço, tudo ao redor agitava brilhos e formas. O par nº 15 chegou ao centro do salão e segurou as mãos suadas. Ele olhou-a na direcção do coração e ela na veia do pescoço dele. Latejou a música, doeram os sentidos e no agarrar do ritmo um do outro ganharam. A si, nessa noite.