LINHA DE IMPRESSÃO

 


Confia a tua pele à minha e nas linhas de ambos deixa que se misturem novas dedadas, impressões que fazem impressão aos mortais, coisa estranha para quem nunca soube o que é a dança.
 
 

O TOQUE E O TACTO



 
O que resta do toque nem sempre é o tacto. Tantas as vezes, a maior das vezes nem um dedo encosta a superficie da pele para sentir-lhe a vida ou o palpitar da emoção por apenas se sentir tocada por outra e ainda outra e mais outra, uma espécie de contágio de vidas.
Não.
O que resta do pouco toque são os cortes nas palavras ou o amargo das palavras ou ainda o que ficou por dizer ou ainda o que se espera que o outro diga.
Um arrepio.
Não um aceno de adeus.

ORAÇÃO



 
Nós, sempre dois, sempre um, as tuas mãos como um xaile, como um amigo, um bem-querer sempre comigo sempre tão perto, um mais que tudo sempre presente, as tuas mãos em mim junto ao meu peito a sentir o quanto quero ter-te sempre, um lacre, uma fita, uma corrente, esta coisa sempre envolvente que não se vê e só se sente, um fogo imenso e sempre aceso, este sempre que é tudo e é quase nada, são mãos que tenho em mim nas tuas, vida que sinto num só abraço.
 
 

LINHAS SEM HISTÓRIA


 
 
Cada dia que passa vejo menos mãos descobertas.
Andam encolhidas, recolhidas, projectadas em fundos de bolso, traçadas em covas de sovaco, apertadas como ganchos sob cotolos bicudos, pela metade como cotos em mangas puxadas à força para as tapar, ocupadas detrás de máquinas que soam apitos.
Deixei de ver mãos a acenar para mim. A chamarem-me. Até a dizerem adeus naquele leve agitar. Mãos que me tocavam na ponta dos dedos para me acordar do pesadelo. Mãos que içavam a rede do pescado. Mãos com leques, mãos de palmas, mãos abertas, mãos com linhas, mãos com histórias de vida.
 
 

SENTIR-ME PELE




 
Este sentido que me fecha e desenha, relevo dos que de olhos fechados e sorriso leve tiverem dom de querer ter tempo e dor na paciência de me querer saber ler, dei aval de me tocarem e do quente se aquecerem. Arrepiarem-se em mim, que arrepiada o toque do coração mais seiva me deu às palavras.