CORPOS DE BAILE

 

 
Ajeitaram-se corpo a corpo como se não tivessem peso, a roupa a deslizar na seda do movimento compassado pela música e o toque dos dedos na cegueira do inato desejo. Uma volta, duas, borboleta doida à volta da luz mesmo sabendo que a morte queima na aproximação do que se exala como tóxico na pele que se adivinha em asas que se despem. Talvez a música fosse a droga, ou o cheiro do cómodo já velho de outros que assistira na mesma ânsia de afagos na alma enganando actores a acharem-se dançarinos apaixonados pela arte, talvez fosse cousa mais simples como dois procurando a mão quente, o silêncio de folga, o reflexo outrem que não a sombra própria.