A ESCOLHA

 
 
 
Sentiu-se encolher, a pele da barriga a mirrar como se sugasse para dentro todas a miudezas, o sexo, a vontade que se cria quando se dá um salto e se faz força no ventre contraindo, tudo se lhe minguava, até as lágrimas que forçava apertando os olhos, para deitar para fora e expelir como um veneno picado, duas forças batendo-se de frente uma contra a outra, caindo e insistentemente erguendo-se para retomar o confronto. Sentiu-se cansada. Sentiu-se pequena, a desaparecer na vontade de não ter vontade de ser, de ser apenas uma coisa tomada como uma coisa qualquer posta num cómodo, sem uso, sem toque de ninguém a não ser para espanar o pó. Fundiu-se mimetizando-se e nunca mais ninguém soube dela. Mas ela ouve-os e vê-os, simplesmente escolheu não ser tocada pela dor.