LINHAS SEM HISTÓRIA


 
 
Cada dia que passa vejo menos mãos descobertas.
Andam encolhidas, recolhidas, projectadas em fundos de bolso, traçadas em covas de sovaco, apertadas como ganchos sob cotolos bicudos, pela metade como cotos em mangas puxadas à força para as tapar, ocupadas detrás de máquinas que soam apitos.
Deixei de ver mãos a acenar para mim. A chamarem-me. Até a dizerem adeus naquele leve agitar. Mãos que me tocavam na ponta dos dedos para me acordar do pesadelo. Mãos que içavam a rede do pescado. Mãos com leques, mãos de palmas, mãos abertas, mãos com linhas, mãos com histórias de vida.
 
 

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