O VAGABUNDO


A Lua descobriu-se e ele lembrou-se. Não vagamente, com pedaços por unir, ou outros sentidos em falta. Recordou-se inteiramente de todas as palavras, dos murmurios, do cheiro, da respiração contida junto ao ouvido.
O que mais o faz sorrir é o corte da Lua. Está igual à daquela noite. Igual ao debruçar da mulher sobre si, as mãos a tocarem a linha do pescoço como a Lua agora roça as suas pontas no azul fundo do céu.
Aquilo não é um céu, é ele, ainda e sempre ele abraçado ao toque da despedida, do beijo molhado de chupão, na dor mordida dos lábios quentes, a pele contra a pele, a pele e a pele.
A Lua é feita de pele de beijos, hoje lembrou-se do seu roçagar...

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