DA TERRA



Agachou-se. Sorriu e apanhou a ambas mãos um punhado grado de terra. Depois cheirou-a. Muito perto do nariz e da boca, um farelo de terra castanha colou-se-lhe aos lábios húmidos, lambeu-se, fechou os olhos, ergueu o queixo ao céu e deixou escapar um ahhhhhh longo e baixo.

Apertou-a contra si, no peito, esfregou o quadriculado da camisa, segurou a que restava entre os dedos.


- Que fazes homem? Olha que te sujas!


Ele riu. Depois deixou escapar à brisa morna da primavera a poalha de terra. Ficou a vê-la tombar, a mais fina a esvoaçar levada para outros campos.


- É preciso cuidar dela, amá-la. Um dia há-de cobrir-me e quero que me seja leve.

Sem comentários: