NATURA


Ainda a bruma molhava caminhos no despertar do dia, escorregava a luz entre pinheiros e fetos, a passarada soltava a alegria nos voos pequenos e curtos da busca de comida. Rasgou o carreiro por onde sempre passava, afundado entre margens fofas de erva brilhante que lhe molhavam as pernas das calças. Aqui e ali, um cogumelo parasita à sombra de um gigante atirado ao céu. Gostava de árvores, do seu silêncio robusto, da sua folhagem gemida entre ventanias assobiadas ou apenas da sombra acariciadora do regresso escaldante. Abraçou o tronco do pinheiro, a resina peganhenta aderiu ao seu rosto, afagou a casca áspera, muito castanha e sangrenta no golpe. E sob as mãos calejadas sentiu-se feliz como se o rugoso se tratasse de um veludo que todo o cobría até à alma.

Sem comentários: