DA SEDA




Toco a noite. Mas nunca hei-de permitir intimidade alguma dela sobre mim, basta-me esta relação em que sabemos o nosso lugar e separamos tão nitida a fronteira da admiração da entrega. Chega. Não quero que ela me conheça para além disto, saber-me a vaguear entre sombras e sons que não se vêem é o limite da nossa proximidade, não quero que me seduza nem que me chame, por isso quando a toco faço-o aflorada, muito ligeira, na passada até e logo me escapo a outros humores que me tentaríam no contacto dos mistérios profundos que o sabor da noite tem. É que a noite tem o toque da seda.

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