O PIANISTA


Deixou-o, voltou-lhe costas e afastou-se. Nunca mais, pior que uma mulher ciumenta, pior que uma mulher cheia de humores, branco e negro, dia e noite, suspiros e gritos. Nunca mais lhe tocaría com a ponta dos dedos sequer, aquecê-lo no marfim amaciado pela polpa ou quando de passagem o acariciava na palma, vagarosamente, o brilho a piscar-lhe o olho... tão sedutor. Não, nunca mais sentiria a sua vibração, o seu corpo a abrir-se entre cordas puxadas pela extensão do aço e os sussurros dos pedais. Tanto namoro, tanto beijo e sempre lhe exigía mais e mais. Deixou-o, voltou-lhe as costas pela ingratidão dos sons que o apaixonavam e prendíam a um mundo feito de dois. Agora quería sentir outras coisas, outros toques, outros pianos dedilhados ao coração.

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